
Por que o Tilted Arc de Richard Serra foi tão controverso?
A história de “Tilted Arc”, uma escultura de aço de 36,5 metros de comprimento e 3,6 metros de altura, criada por Richard Serra, que foi encomendada, instalada e depois destruída por autoridades governamentais em Nova York na década de 1980, é uma das histórias mais lendárias no campo da arte contemporânea. A narrativa, que levanta alguns pontos fascinantes e construtivos sobre a interseção da arte abstrata e a vida cotidiana, é a seguinte: Em 1981, a Administração Geral de Serviços dos Estados Unidos (GSA) encomendou a Serra a construção de uma escultura a ser instalada na praça em frente ao Edifício Federal Jacob K. Javits, em Lower Manhattan. O local já era um caldeirão de várias posições estéticas abstratas. A praça biomórfica apresentava uma fonte circular que se assemelhava a uma espécie de elegia à Proporção Áurea. Os brutais edifícios modernistas ao redor exemplificavam a glória da grade. Serra projetou um colaborador perfeito na composição—uma enorme chapa de aço linear que se inclinava levemente, tornando-se um plano inclinado. Do ponto de vista estético abstrato, foi um gesto magistral. Não apenas era formalmente agradável, mas também atualizava o Modernismo com conversas sobre materialidade, efemeridade, especificidade do local e a interseção da arte e da vida pública. Para as pessoas que viviam e trabalhavam ao redor da praça, no entanto, era uma desgraça. A escultura bloqueava seu caminho entre os edifícios. Ela projetava uma sombra sobre eles enquanto almoçavam. Bloqueava sua visão da fonte. E como um trabalhador apontou durante o julgamento público que foi realizado para determinar se “Tilted Arc” deveria ser destruído, $175.000 era muito dinheiro público para gastar em “uma parede de metal enferrujada.” No final, um juiz determinou que a escultura tinha que ir. A saga de oito anos—que concluiu trinta anos atrás neste ano—ainda oferece lições para artistas e municípios, hoje.
Pare e Sinta o Ferrugem
Para Serra, “Tilted Arc” incorporou seu interesse na capacidade de uma obra de arte ser adaptada a um local de forma que causasse uma interação direta e íntima com os espectadores. Ele analisou a praça antes de projetar a obra. Ele escolheu sua forma, dimensões e posição após notar a maneira apressada com que as pessoas passavam pela praça indo e voltando. Ele queria redirecionar esse tráfego de forma intencional, não apenas como um incômodo, mas como uma maneira de alterar a realidade perceptual das pessoas que utilizavam o espaço. Ele queria que elas parassem e considerassem seu entorno, e pensassem sobre o espaço que estavam atravessando. Foi um gesto radical e subversivo que tinha a intenção de perturbar as atividades normais, e funcionou. A escultura parecia absolutamente opressiva para muitas das pessoas que tinham que olhar para ela todos os dias. Muitos reclamaram que já odiavam a estética do edifício federal e da praça, e que “Tilted Arc” apenas tornava tudo mais horrível. Outros, ironicamente, reclamaram que gostavam da estética da praça e da arquitetura, e que “Tilted Arc” detractava da harmonia do espaço.
Em pouco tempo, mais de 1.000 cidadãos—aproximadamente 15 por cento da população do bairro—assinaram uma petição para que a escultura fosse removida. A princípio, a GSA apoiou Serra e se recusou a remover a obra. Mas a indignação pública aumentou ao longo dos anos, e após a eleição de um novo prefeito em 1984, a maré da opinião pública oficial se voltou contra a escultura. Um julgamento para remover “Tilted Arc” foi realizado em 1985. Apesar de mais de uma proporção de 2 para 1 de cidadãos, incluindo uma enxurrada de artistas famosos, testemunhando a favor da escultura, o juiz decretou que a escultura seria removida. Serra apelou, e a decisão levou mais quatro anos para ser aplicada, mas finalmente, em 15 de março de 1989, “Tilted Arc” foi cortada em três partes e levada para armazenamento.
Inespecificidade do Sítio
A saga da destruição de “Tilted Arc” levou a uma das opiniões legais mais notáveis já feitas sobre arte. Essa opinião trata da noção de se a localização importa para a integridade de uma obra de arte específica do local. Normalmente, esse é o tipo de debate retórico que se esperaria ouvir em uma aula de crítica de arte, ou em um bar. Mas, neste caso, desenrolou-se em um Tribunal de Apelações dos Estados Unidos. Basicamente, Serra argumentou em seus vários recursos que, uma vez que “Tilted Arc” foi projetado especificamente para a praça onde foi instalado, movê-lo para literalmente qualquer outro local o tornaria sem sentido, essencialmente destruindo-o. Apesar da lógica sólida desse argumento, uma série de juízes decidiu contra Serra. Em reação a essas decisões, uma emenda foi feita em 1990 à Lei de Direitos Autorais dos EUA, protegendo os chamados “direitos morais” de um artista, uma medida que muitos acreditavam que teria protegido Serra de ter sua obra específica do local removida e, assim, destruída.
Em 2006, no entanto, um caso subsequente no Tribunal de Apelações dos EUA levou um juiz a emendar essa emenda, afirmando que, aos olhos do governo dos Estados Unidos, o local específico para o qual uma obra de arte específica de local é projetada não é essencial para a integridade da obra. Essa decisão que soa absurda evidentemente tem suas raízes no precedente existente estabelecido pelo caso Serra. Mas me parece que há uma perspectiva óbvia faltando em todo o debate. É bem possível que os juízes que decidiram contra Serra não estivessem realmente decidindo contra sua lógica. Talvez eles concordassem completamente com ele que mover sua obra específica de local a destruiria. Afinal, qual é a base razoável para fazer uma afirmação tão ridícula de que a localização não é uma parte vital da arte específica de local? O cenário mais provável é que eles simplesmente não se importavam. Eles queriam destruir "Tilted Arc". Eles estavam enviando uma mensagem em favor do status quo. Para mim, a história é um lembrete do poder político da arte abstrata. Não é um assunto esotérico que existe apenas nas academias e museus. O poder da percepção e as maneiras como a arte se cruzam com a vida cotidiana são bastante reais.
Imagem em destaque: Richard Serra - Tilted Arc, 1981. Aço COR-TEN. 37m de comprimento, 3,7m de altura, 6,4cm de espessura. Federal Plaza em Lower Manhattan, Nova Iorque. Foto: Elizabeth Sasser. Cortesia Richard Serra.
Todas as imagens são utilizadas apenas para fins ilustrativos.
Por Phillip Barcio